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“eu sai da comunidade pra realizar o sonho do meu avô”

  • Publicado: Quinta, 25 de Abril de 2024, 11h26
  • Última atualização em Quinta, 25 de Abril de 2024, 11h27

Selecionado em 1º lugar na seletiva (Autaz Mirim) para vaga no curso de Formação de Professores Indígenas, o Josimar Maciel traz no sangue as marcas de um sonho que se realiza a cada passo dado para o reconhecimento dos direitos dos Povos Indígenas.

Eu passei minha infância e parte da juventude ouvindo o sonho do meu avô (Sateré Mawé) de vê nossa comunidade com escolas, energia elétrica, um ramal que ligasse a comunidade a estrada mais próxima, com uma forte associação, capaz de tomar decisões importantes para vida de toda comunidade e, sobretudo, de vê nós sentirmos orgulhos de ser quem somos e de que nós poderíamos ser muitos mais”, relembra Josimar, emocionado ao falar do seu avô materno Raimundo Azevedo Maciel, sua grande inspiração e quem mais incentivou toda família a estudar.

De manhã cedo meu avô pegava a canoa e saia para pescar, essa era uma forma de garantir nosso alimento, mais do que um trabalho, era uma ocupação, um prazer, ele fazia sempre isso, mas quando pude fazer meu primeiro curso de Informática Básica, no Careiro Castanho, ele teve que passar a pescar à noite. Sem esse ato de amor e sacrifício do meu avô em ceder nossa única canoa, eu não estaria aqui, agora, contando essa história”.

A morte do seu avô (2007) abalou toda a família e parte da Comunidade, que começou a se desagregar, o próprio Josimar veio para Manaus, mas em 2009 decide retornar a Autaz Mirim, sempre movido pelas palavras do seu avô de que somente pelos estudos seria possível apreender a realidade de ser, de se reconhecer e de transformar essa mesma realidade num futuro melhor.

Meu avô era um visionário e eu abracei essa visão, ele plantou em meu coração a semente de não sentir vergonha de ser quem sou, isso me fez trabalhar e me envolver com os problemas da comunidade e buscar soluções mesmo que distantes, em 2011, nós conseguimos abrir o ramal entre a comunidade e estrada mais próxima facilitando a logística de diversas atividades, como meu avô sonhava”.

Porém, era necessário que a comunidade encontrasse sua identidade enquanto povo indígena, os únicos registros orais eram dos seu avós maternos, como seu avô já havia partido, ele, junto com outros parentes, começaram a pesquisar sobre a genealogia, buscando na sua avó materna a fonte para se reconhecerem como Povo Mura, o próximo passo seria a formalização junto à Funai, como uma das exigências era que a comunidade dispusesse de alguém que pudesse ser professor, como ninguém se habilitou, Josimar se voluntariou.

Nunca imaginei ser professor, mas me dispus a aprender por acreditar que nós indígenas podemos ser mais dos nós somos, temos muito conhecimento e saberes que precisam ser valorizados e passados para outras gerações, então, hoje eu não sou Josimar o professor ou o comunitário, eu sou um aprendiz do mundo, eu tenho uma visão do futuro de ter em nossa comunidade uma escola específica para indígenas que oferte desde o ensino fundamental até a pós-graduação, a gente quer formar pessoas que saibam o valor de ser indígena, então essa oportunidade de cursar graduação na Ufam me permite vislumbrar novos caminhos, novas conquistas pra nossa comunidade Mura, mas como também para os Povos Indígenas”, conclui

 

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